Todos sabemos que a novilha de hoje é a vaca de amanhã, também sabemos que o investimento no futuro começa criando bem as novilhas, mas, e no caso de falhas, como elas influenciarão na lactação desses animais? É por isso que hoje falaremos sobre dois erros comuns, o primeiro a falha na identificação e retirada de tetos adjacentes, ou tetos supranumerários, e o segundo erro a mamada cruzada. Ambos podem aumentar a CCS do rebanho e até serem causas de descarte precoce dos animais.
É comum que a bezerra nasça com mais de 4 tetos, ou seja, além dos 4 normais que possuem inserção em cada quarto de produção de leite, elas também possuem tetos supranumerários que podem ser um ou mais. A identificação deve ser feita logo após o nascimento, e uma vez que seja possível identificar quais são os tetos principais, os anexos deverão ser retirados. É importante que esse manejo seja feito dentro dos 2 primeiros meses de vida da bezerra, para que seja uma intervenção mais simples. De qualquer forma um Médico veterinário deverá ser chamado para avaliação e escolher o procedimento adequado.
E se não retirar, qual problema pode causar? O animal terá mais uma porta de entrada para agentes causadores de mastite, facilitando então o aumento da CCS deste animal.
A mamada cruzada é um problema fácil de identificar, a grande questão é o que está causando esse estresse e como ameniza-lo ou soluciona-lo. As bezerras nascem com o instinto e desejo de sugar para tomar seu leite. Nós na tentativa de facilitar o manejo muitas vezes substituímos o leite direto da vaca para um aleitamento com balde sem bico ou utilizando um bico com furo muito grande para que a bezerra “mame mais rápido”. O problema é que além de não satisfazer a necessidade de sugar da bezerra, essa rapidez no mamar não deixa a bezerra satisfeita porque não dá tempo dela “entender que já mamou o suficiente”. Isso acontece porque o que ela demoraria 6 minutos num balde com bico ou em uma mamadeira, ambos com furo de bico em x que o leite apenas goteje, no balde sem bico ela mama em menos de 50 segundos. Ou seja, além de ser diferente do natural que seria cabeça pra cima mamando, um furo pequeno como o do teto da vaca, ela ainda não tem tempo para entender que está saciada.
Na desmama é que podemos ver o reflexo desse estresse causado pela privação de sugar durante o aleitamento, onde ao colocar as bezerras juntas já começam a se mamar, isso vai no pós desmama até no início da fase reprodutiva. E para nós só resta amenizar os erros, separando as bezerras que se mamam imediatamente e também podendo colocar utensílios que melhorem o bem-estar, como bolas ou coçadores na tentativa de distraí-las.
Em ambos os casos, tanto dos tetos supranumerários como na mamada cruzada, existe um leite que acaba ficando parado, seja por não ser ordenhado (e nem deve ser estimulado) no caso de tetos adjacentes, como na mamada cruzada, que o animal jovem que ainda não está lactante pela frequente estimulação dos outros animais acaba produzindo leite. E leite parado é o paraíso dos agentes causadores de mastite, que podem ainda ser facilitados pelo desafio de um ambiente úmido e sujo, no caso de infraestrutura precária para o crescimento e criação de novilhas. Estes pontos críticos somados a baixa necessidade de manejo desta categoria animal, quando comparado com as vacas em lactação, irão dificultar a identificação do aparecimento da mastite, onde muitas vezes os animais irão apresentar sinais clínicos como inchaço, vermelhidão e grumo, e não serão notados. O problema aumenta ainda mais com a consequente falta de tratamento, ocasionando muitas vezes perda de quarto mamário que só é vista quando a novilha pari com “teto seco”.
A grande questão é que este animal com histórico de mastite não tratada ou até com um quarto a menos produzindo leite já é um animal que entra para o rebanho em fase de lactação com problema. O que era para ser um animal que poderia substituir um outro que iria para descarte, muitas vezes acaba sendo descartado precocemente devido aos erros de manejo cometidos na fase de cria. É por isso que detalhes importam muito, para uma produção eficiente e lucrativa de bezerras e novilhas.
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